sábado, 10 de julho de 2010

Sem maquiagem, vocalista do Teatro Mágico fala sobre política e cultura





Por Cintia Salles, Claudio Motta Junior e Elineudo Meira (Chokito) Fotos: Daniela Carrasco



Fernando Anitelli declara sua preferência por Dilma e Mercadante, diz que apóia o software livre e conta sobre as estratégias do grupo para divulgação das músicas na ‘era do download’


Encontramos o vocalista e músico da trupe O Teatro Mágico, Fernando Anitelli, 37, no escritório da trupe localizado na cidade de Osasco, região metropolitana de São Paulo. Sem nariz vermelho nem maquiagem, o palhaço- poeta recebeu a equipe do Jornal PT- Macro Osasco em Contato para uma entrevista recheada de humor, interatividade e carisma que durou quase duas horas.

O Teatro Mágico entra em seu sétimo ano de estrada, com repertório que ‘mistura numa coisa só’ a música, a poesia, o teatro, o circo e a discotecagem, em meio a passos de dança e acrobacias. Embalado por ritmos que variam desde a suavidade do violino até as forte batidas de instrumentos de percussão, o espetáculo aproxima o público do sonho e da poesia.

Os artistas criam ferramentas que levam seus fãs a participarem através da troca de palavras, poesias e suspiros jogados ao ar. Fernando Anitelli declama um trecho de sua poesia, em tom de jogral, só dando continuidade após o público repetir tudo que foi dito. Idealizador do projeto, Anitelli se inspirou no romance alemão “O lobo da Estepe” (1927), do escritor alemão Hermann Hesse, naturalizado suíço para a criação da trupe.

Na entrevista abaixo, o artista falou sobre o lançamento do segundo DVD e o terceiro CD, que completa a trilogia do grupo. Também relatou sobre a luta do Movimento Música para Baixar, arte independente, software livre e direito autoral. Não se limitou ao campo da cultura, mostrou seu posicionamento político, sua opinião sobre o governo Lula e seu apoio à eleição de Dilma para presidente e Mercadante para governador em São Paulo.

Macro Osasco em Contato: Qual a relação que o Teatro Mágico tem com atual momento político? Fazendo um balanço com o último governo FHC e agora com o Lula, na questão cultural, o que representa o atual momento político?

Fernando Anitelli: O Teatro Mágico sempre teve preocupação muito grande em não deixar o projeto jamais parecer uma coisa colorida e saltitante, algo simplesmente pra entreter.
Eu sempre que escrevo uma música, uma letra, me preocupando com aquela última frasezinha - “moral da história”. O porquê e para quem eu estou fazendo tudo aquilo. Com o que a gente quer se envolver. Não tinha como ser diferente. O Teatro mágico sempre se envolveu com as questões pertinentes com o atual momento político, com o que está inserido no nosso contexto.

Macro Osasco em Contato: E com o Governo Lula?

Fernando Anitelli: O governo Lula nesses últimos anos tem dado espaço para o diálogo, que é uma coisa que a gente nunca teve antes, possibilidade de dialogar.

Macro Osasco em Contato: Como é ser músico hoje em dia? E como você avalia os espaços concedidos a artistas pelos meios de comunicação?

Fernando Anitelli: Milhões de músicos no país querem ter um espaçozinho e ficam clamando pelo bom humor do dono da rádio, ou do amigo do vizinho da tia do primo do conhecido do amigo da faculdade que trabalha.
Putz, rádio e Tv são uma concessão. O Estado fornece isso para alguém administrar publicamente, democraticamente a comunicação para o público. Só que não é isso que acontece. Não tinha como o Teatro Mágico ficar indiferente, todas essas questões são cabíveis de se colocar em cima de um palco, de conversar com o público.

Macro Osasco em Contato: Comente exemplos de benefícios conquistados no âmbito cultural.

Fernando Anitelli: Os pontos de cultura foram tão bem pensados... A questão do Vídeo, da música, do texto e da foto ao alcance de locais mais periféricos.
Se eu não me engano, Osasco e Salvador são as cidades que têm mais pontos de cultura. São nove pontos de cultura em cada região.

Macro Osasco em Contato: Existe mobilização para conseguir isso?

Fernando Anitelli: Não se faz uma revolução só pela internet. É preciso estar próximo, dialogar, sentir o cheiro do seu companheiro ou companheira. Temos um governo interessado em discutir o direito autoral, dando espaço para pontos de cultura, para o diálogo, para a realização de eventos e festivais, um governo que é preocupado com o plano nacional da banda larga. Agora, as pessoas têm um universo de bibliotecas infinitas, que o ser humano nunca teve acesso antes. Isso é essencial. Pessoas de mente aberta dispostas a trabalhar. Um governo voltado para a sociedade, disposto a distribuir a informação, capaz de fazer essa informação se cruzar, se compartilhar, se conjugar. Tudo isso aí para mim está envolvido nesse governo atual.

Macro Osasco em Contato: Movimento Música para Baixar, como você vê isso? Como é essa articulação? Qual é a forma de diálogo do Teatro Mágico com os outros movimentos sociais?

Fernando Anitelli: O movimento música para baixar, assim como qualquer movimento que a gente possa fazer comparação, surge pela necessidade de mudar esse marasmo cultural nosso. Colocamos até a batucada da Marcha Mundial das Mulheres em cima do palco, para fazer um som com a gente. Chamamos o Pedro Munhoz, que é envolvido com o (Movimentos dos trabalhadores rurais sem terra) MST, o Gog, do movimento Hip hop.
Qualquer movimento acaba no palco. A questão feminista, da homossexualidade, do movimento negro, do meio ambiente, tudo se encaixa lá em cima. E o Movimento Música par Baixar envolve essas discussões todas.
Em relação ao direito autoral, em relação ao Jabá - que é crime - em relação ao acesso livre aos bens culturais. Como você vai falar de um movimento do povo como o negro, sem falar da música negra e sem falar do acesso que as pessoas têm a essas músicas?
Não tem como ficarmos de fora. É fundamental entender que o Movimento Música pra Baixar faz ponte com esses outros movimentos, não somente pra potencializar os outros, mas que os outros também potencializam o nosso e a gente junta tudo numa coisa só, com esse propósito de se melhorar, um ajuda ao outro.

Macro Osasco em Contato: Eleições 2010. Qual foi a repercussão que o grupo sentiu ao colocar o apoio a Dilma Roussef no twitter do Teatro Mágico?

Fernando Anitelli: Foi muito boa, tranquila. Eu tenho uma visão já conhecida, bem progressista, de esquerda. No meu ponto de vista, a Dilma é a pessoa que melhor se enquadra nesse momento, para dar continuidade pra esse motor que foi colocado, que o governo Lula conseguiu fazer dialogando, fazendo as modificações coerentes. Governar um país, fazer esse país chegar como chegou lá fora, ter tentáculos pra conseguir caminhar e se organizar.
A estrutura que o governo Lula já conseguiu colocar, só a Dilma é capaz de continuar, ela já esta inserida nisso.

Macro Osasco em Contato: É consenso de o grupo todo apoiar a Dilma e o PT?

Fernando Anitelli: O que a gente não vai deixar é ninguém [do grupo] apoiar o Serra. “Serra não!,Não me venha falar de Serra”. O Teatro Mágico tem uma diversificação política dentro dele, mas sempre para a esquerda.
Quem não pensa assim, não está de acordo com a nossa direção, com a nossa meta, inclusive com a nossa meta artístico-política. Mesmo assim continuamos caminhando. Temos a posição anti-Serra enquanto projeto. Até porque ele boicota há três anos, politicamente, a participação do Teatro Mágico na virada cultural. É coisa da Secretaria de Cultura pedir e eles boicotarem mesmo.

Macro Osasco em Contato: Como está o grupo hoje?

Fernando Anitelli: Em uma das melhores fases. Estamos conseguindo de maneira livre e corajosa invadindo os meios de mídia, de massa. Eles estão tendo que engolir a gente, não tem como não falar da gente. Estamos ocupando um espaço que já era nosso.

Macro Osasco em Contato: Como você avalia a cultura nacional voltada para a grande massa?

Fernando Anitelli: A cultura nacional não pode ficar fadada a conchavos dentro de escritórios, decidindo o que é musica boa ou ruim. Uma música ruim tocada mil vezes e vira um sucesso. [Nos meios de comunicação] Tem que ter a participação de todo mundo.
Macro Osasco em Contato: Qual a relação do grupo com o público? Quais os planos para o futuro?

Fernando Anitelli: Tornamos-nos cada vez mais acessíveis para todo mundo. Estamos aí com novos aparelhos, novos músicos. Dia 16 de julho tem lançamento do DVD do 2º ato no Rio de Janeiro - Fundação Progresso e em São Paulo no dia 18 de Julho na Cardeal Arco Verde – Carioca Club.
No segundo semestre a gente grava o 3º Cd, que será lançado no ano que vem, depois gravamos o DVD e findamos nesse primeiro momento nossa idéia de trilogia.

Macro Osasco em Contato: A política também estará inserida nesses trabalhos? Qual a preocupação social do trabalho de vocês? Quais questões vocês querem passar para o público?

Fernando Anitelli: Questões sobre ética, política, religião, feminismo, meio ambiente, comunicação, trabalho. Tudo isso junto com brasilidade, brincadeiras e poesias, nessa experimentação que a gente não para de fazer nunca. Sempre tentando melhorar, amadurecer. Então, é nesse momento que o Teatro Mágico está sempre experimentando. Também quero fazer outros trabalhos, além de ser um palhaço. Temos que nos dar essa possibilidade de experimentar outros projetos. Para que possamos trabalhar e se aprender com o outro.

Macro Osasco em Contato: Como você vê esses novos festivais culturais que envolvem debates? Usando como exemplo o Festival da Juventude em Fortaleza.

Fernando Anitelli: Eu sempre vejo com bons olhos esses festivais. Com debates, cultura, juventude, artistas nacionais com expressão progressistas, pensantes que promovem o debate. Os artistas também precisam se envolver com esse encontro no geral.

Macro Osasco em Contato: A candidatura do Mercadante. Como você enxerga a política e a questão cultural aqui na região metropolitana de São Paulo?

Fernando Anitelli: O Mercadante em São Paulo é fundamental. Por estarmos a muito tempo na mão do PSDB, muitas coisas não caminharam. A internet livre e o diálogo são coisas que culturalmente não caminharam. Essa possibilidade toda é o que deslumbramos com um possível governo do Mercadante, aliados a um governo federal que possa estar somando.
O Mercadante é capaz de cuidar de São Paulo de uma maneira muito criativa e bem livre. É assim, eu imagino um novo momento com o Mercadante.
A gente precisa se envolver muito mais. É preciso mais políticas culturais dentro das escolas. Agora foi aprovado pelo Ministério da Cultura que música também seja uma das matérias dentro da sala de aula. Você vai poder trabalhar com o lúdico e o pensar, então pode contar com a cidade de Osasco. Tivemos uma conversa com o Prefeito Emidio pedindo políticas públicas e deixando o grupo à disposição para cooperar.

Macro Osasco em Contato: Quer saber mais sobre a trupe?
Acesse: www.oteatromagico.mus.br ou leia na edição de julho no jornal da Macro Osasco.
Do blog da Macro Osasco (http://ptmacroosasco.blogspot.com)


Fonte: http://www.jpt.org.br/noticias/exibir.php?Id=1093

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